Uma pintura que foi concebida exclusivamente para homenagear a padroeira de Caicó neste ano de 2021 traduz singularidades da Festa de Santana de Caicó e do seu povo. A obra do artista caicoense André Vicente retrata a imagem da santa com sua filha imaculada no centro geométrico, de onde irradia um esplendor que remeter diretamente a cultura do bordado produzido no município.
O peso da imagem está na imponência da figura central. No primeiro plano, entraram em contato com o solo sertanejo, com seus lajedos e cactáceos. O cortejo da santa passa sob o arco de Nossa Senhora de Fátima, um dos principais cartões postais de Caicó.
A fonte da vida está representada na água do açude Itans. É possível observar, a frente do espelho d’água, a figura de um vaqueiro, filho da sorte, que rende reverência a Sant’Ana. A composição ganha em expressividade simbólica quando emergem linhas do canto direito da pintura simulando uma árvore, nua de folhagens, aonde pousam pássaros típicos da caatinga.
Enrolada no seu caule vemos projetar-se uma serpente. O réptil representa o bem e o mal e seu veneno simboliza o antídoto, o remédio. A mesma serpente que ameaça, pode trazer a cura tão necessária à humanidade neste momento pandêmico. Lembremos que esse bicho peçonhento é símbolo de poder, de sabedoria e não por acaso também simboliza a ciência, o conhecimento e a restauração da saúde. No canto inferior direito, ainda vemos se impor a carcaça de um boi com chifres prateados.
O imaginário popular fertiliza-se com alguns elementos distribuídos no lado esquerdo, como um rolo de cordas e duas cabaças, aonde se guarda alimento, água, esperança. Quanto ao conteúdo, podemos dizer que a composição vertebrou-se a partir de estudos que dialogam com os valores culturais, com as tradições religiosas e com a fé do povo sertanejo. Como referência para o trabalho foram utilizados vários estudos imagéticos, fruto das investidas poéticas do artista, além de reflexões existentes sobre o patrimônio imaterial e pesquisas acadêmicas que referenciam o Seridó.