“A gente não sabia dos direitos que a gente tem, quando está no sistema prisional, como ter o direito ao atendimento do SUS a qualquer momento que a gente precisar”. “O que mudou no meu olhar, é que a sífilis, eu achava que não tinha cura, e a sífilis tem cura com tratamento”. Os trechos dos depoimentos que abrem esta reportagem são de duas internas do Pavilhão Feminino do Complexo Penal Estadual Agrícola Dr. Mário Negócio (CPEAMN), que fica em Mossoró, a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, distante cerca de 280 quilômetros da capital do estado.
Elas estão entre as 56 internas do estabelecimento e tiveram acesso à trilha formativa sobre saúde no sistema prisional que está disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (Avasus). Essas iniciativas ganharam o reforço de cinco novos computadores de última geração, que foram doados à unidade, na terça-feira, 16, por meio do Projeto Sífilis Não, executado pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN).
De acordo com a diretora do Pavilhão Feminino do CPEAMN, Águida Larissa, “as internas participam de projetos educacionais não pensando somente na remição da pena, elas realmente pensam no aprendizado e esse é mais um projeto enriquecedor que associa educação à saúde”.
Outros dez computadores foram doados para a unidade masculina do Complexo Penal. Nela, estão 560 privados de liberdade que terão acesso à trilha formativa. O diretor do CPEAMN, Rodolpho Lima, falou sobre a mudança que essa doação vai causar na rotina dos que estão dentro da unidade: “a gente descobriu, por meio da Vara de Execuções Penais, que o LAIS já vinha fazendo um trabalho de pesquisa no sistema prisional e, agora, a gente vai poder oportunizar, tanto aos policiais penais quanto aos internos, conhecimentos em saúde”.
Como parte da mesma agenda de entregas de doações de equipamentos, a equipe do Sífilis Não seguiu de Mossoró para Pau dos Ferros, no Alto Oeste Potiguar. No Complexo Regional Penal de Pau dos Ferros (CPRPF), foram entregues cinco computadores na última quarta-feira, 17. Até o momento, a unidade prisional não dispunha de equipamentos novos e alguns dos existentes foram doados por familiares dos internos. O diretor do CPRPF, Francisco Caio Sampaio, agradeceu a parceria: “a gente tem uma demanda muito grande, tem poucos computadores e de má qualidade e, agora, com essa doação, tanto os apenados como os policiais penais vão ter acesso aos cursos e ter mais capacitação”.
De acordo com a professora Laysa Glicia de Souza, que atua no sistema prisional potiguar e foi conteudista da trilha formativa, nesses dois complexos prisionais, o apoio da Vara de Execuções Penais da Comarca de Mossoró/RN, por meio da juíza Cinthia Cibelle Diniz, foi o diferencial para que os benefícios do Projeto chegassem até a população carcerária. “É imensurável o impacto que esses computadores trarão na formação e é muito transformador fazer parte de tudo isso e perceber o interesse em aprender”, conclui.
Sífilis Não
O Projeto Sífilis Não é resultado de uma parceria entre o LAIS/UFRN, o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Atualmente, é a maior iniciativa de enfrentamento à sífilis no contexto da saúde global. Entre os públicos considerados prioritários para as ações do Projeto, estão as pessoas privadas de liberdade.