Queijos artesanais conquistam cada vez mais o paladar dos consumidores

A preferência por produtos produzidos em pequena escala, artesanalmente, com garantia de boas práticas e reconhecimento de origem, é uma tendência de consumo no país e do mundo. Um exemplo disso são os queijos artesanais brasileiros que são tradicionalmente produzidos em diversas regiões do Brasil e pouco a pouco vêm ganhando espaço na mesa do consumidor como uma iguaria.

De acordo com o analista de Competividade do Sebrae, Luiz Rebellato, existe um novo comportamento de consumo que valoriza a qualidade dos alimentos e novas experiências gastronômicas. “Os consumidores estão valorizando muito mais produtos pouco industrializados em lugar de produtos cheio de aditivos e ingredientes artificiais que são comuns nas produções de larga escala. Há um interesse maior por um produto diferenciado e isso envolve até mesmo o conhecimento da origem do produto e do produtor”, explicou.

Essa mudança de comportamento do consumidor tem se refletido no mercado de queijos artesanais, com o crescimento não somente do interesse pelo produto e do volume de comercialização, como também no aumento de lojas especializadas para a comercialização desse item, criação de rotas gastronômicas por meio do turismo e a presença desses produtos em plataformas digitais.

Segundo Rebellato, esse ciclo virtuoso também inclui a profissionalização do pequeno produtor rural, a regularização da produção e, ainda, a organização da cadeia produtiva. “Observamos que o processo produtivo também vem se aperfeiçoando e inovando para oferecer cada vez mais produtos com características diferentes, a partir de enriquecimento com fungos específicos, processos de maturação e de transformação de cada fazenda”, ressaltou.

Dados do último Censo Agropecuário do IBGE, de 2017, revelam que no Brasil, são produzidas 222 mil toneladas de queijo e requeijão em agroindústrias rurais, em pouco mais de 175 mil estabelecimentos, formados predominantemente pela agricultura familiar. Minas Gerais destaca-se entre os estados com a maior produção de queijo artesanal no país. O Queijo Minas Artesanal é reconhecido oficialmente em nove microrregiões do estado, envolvendo em torno de 100 municípios mineiros. Na última terça-feira (29), a região de Diamantina, que abrange nove municípios, foi reconhecida como produtora.

Desafios

O produtor e presidente da Associação dos Produtores do Queijo Canastra (Aprocan), João Carlos Leite, acredita no potencial do queijo artesanal brasileiro. “A produção artesanal é natural, ambientalmente correta, socialmente responsável, gera renda, mantém uma atividade e cria uma identidade nacional na gastronomia. Nós temos plena consciência da responsabilidade de manter a tradição de uma atividade secular no Brasil”, declarou.

Segundo ele, apesar do cenário favorável do mercado, o produtor de queijo artesanal enfrenta barreiras para se enquadrar na legislação vigente. Para ele, o ideal é que o Brasil avance com a criação de  leis específicas que regulamentem a inspeção sanitária da produção agroartesanal. “Nós queremos uma equiparação ao sistema de inspeção sanitária que já é reconhecida na Europa. Em termos de segurança, nós estamos muito à frente dos europeus, mas não temos condições de trabalhar e vender como gostaríamos”, defendeu.

João Leite conta que os mesmos níveis de controle de uma indústria, com alto risco, têm sido aplicados aos produtores artesanais, a partir do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). “Já tivemos avanços, como o Selo Arte, que autoriza essa produção e cria uma marca coletiva, mas é preciso fechar o ciclo no aspecto da fiscalização sanitária, como já é realidade nos países europeus que produzem queijo com leite cru”, pontuou.

Ele explica que o queijo artesanal feito com leite cru possui características próprias que garantem naturalmente a qualidade sanitária. “É como se ele possuísse um sistema de autodefesa imunológica própria que é capaz equilibrar as floras microbianas benéficas e patogênicas. A natureza é perfeita”, comentou.

Apoio do Sebrae

Em Minas Gerais, o Sebrae tem apoiado a produção artesanal de alimentos, como o queijo, café, mel, a partir de uma estratégia de fortalecer e promover a identidade de origem desses produtos. De acordo com o analista de Agronegócio do Sebrae Minas, Ricardo Boscaro, os produtores recebem capacitação complementar da instituição com orientações sobre boas práticas de produção, mas também sobre como posicionar melhor o produtor no mercado. Eles ainda são convidados para participar de iniciativas de conexão com o mercado.

“O objetivo é oferecer para o consumidor não apenas o queijo artesanal, mas tudo que acompanha esse produto, como a história do produtor, a cultura daquele território, agregando valor ao produto. Para isso, levamos esses produtores para eventos dentro e fora do estado, mas também trazemos compradores para que conheçam a produção de perto e possam contar essa história”, contou.

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