O governo federal realiza nesta terça-feira (30/4) o evento de lançamento do projeto “Mulheres Mil: Trabalho Doméstico e Cuidados”. A ação tem como objetivo contribuir para a igualdade social, econômica, racial, étnica e de gênero de mulheres em situação de vulnerabilidade social e econômica a partir do envolvimento da Rede de Educação Profissional, Científica e Tecnológica nos contextos urbanos, rurais, comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas do país.
O evento de lançamento ocorreu entre 15h e 18h na sede do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
O Programa busca prioritariamente atender mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade social e econômica, em contexto de pobreza e extrema pobreza, baixa escolarização, responsáveis pelos cuidados das/os de pessoas e domésticos e vítimas de violência. A iniciativa observará desigualdades interseccionais de classe, gênero, raça, etnia, orientação sexual, curso de vida, território e deficiência.
Além disso, busca viabilizar o acesso à formação profissional e cidadã, reconhecendo saberes ao longo da vida, elevando a escolaridade, promovendo a inserção produtiva e a mobilidade no mundo do trabalho. E também prevê a Bolsa Formação – modalidade de assistência estudantil ofertada para auxílio transporte e alimentação, sendo custeada diretamente pela instituição ofertante.
Também participaram do lançamento os ministérios da Educação, das Mulheres, dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), do Trabalho e Emprego (MTE) e da Igualdade Racial (MIR). Esses órgãos integram o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) – uma articulação interfederativa composta por 18 ministérios responsáveis por criar a Política e o Plano Nacional de Cuidados – e representam o governo federal no Protocolo de Intenções 25/2034 firmado com a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad). A transmissão é do canal do Ministério das Mulheres no YouTube.
Pesquisa do Ipea
Para entender as demandas e as necessidades, além de traçar o perfil de quem trabalha com estas atividades, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, lançou a “Pesquisa Nacional sobre Trabalho Doméstico e de Cuidados”. O formulário on-line pode ser acessado até o dia 13 de junho.
O questionário está dividido em quatro blocos:
• Informações gerais
• Características do trabalho
• Frequência, deslocamento e custos e
• Contratação de trabalho via aplicativos/plataformas digitais.
Por exemplo, quantas atuam como microemprendedoras individuais (MEIs)? As chamadas cooperativas estão resolvendo demandas do setor? Quantos atuam na informalidade e de modo precário? Qual o grau de respeito aos direitos assegurados pela formalidade? Qual o perfil dessas trabalhadoras e o perfil das pessoas de quem cuidam – idosos, crianças, pessoas com deficiência, enfermos?
Essas informações são fundamentais para a elaboração de políticas públicas visando à melhoria das condições de trabalho das pessoas que exercem atividades de cuidado no Brasil, bem como para aumentar a qualidade dos serviços oferecidos.
O Ipea destaca que as informações e dados pessoais fornecidos não serão divulgados e estão protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei nº 13.709/2018, ou seja, a privacidade de quem participar do estudo será preservada. Para mais informações, entre em contato através do e-mail: pesquisa.cuidados@ipea.gov.br.
Trabalho doméstico no Brasil
O trabalho doméstico é a ocupação de 5,8 milhões de pessoas, sendo 92% delas mulheres e 61,5% mulheres negras. Trata-se da categoria que mais emprega mulheres no país, principalmente mulheres negras com baixa escolaridade e oriundas de famílias de baixa renda. As trabalhadoras domésticas formam o maior grupamento profissional dentro da força de trabalho de cuidado remunerado no Brasil, respondendo por cerca de ¼ do total de trabalhadores e trabalhadoras do setor. Apesar da importância da profissão na provisão de cuidados para as famílias brasileiras, a realidade dessas trabalhadoras ainda é marcada por precarização, má remuneração e desproteção social, trabalhista e previdenciária.
Para mudar esta realidade, a Fenatrad demandou do governo, neste Protocolo de Intenções, a realização do projeto para a qualificação profissional dessas mulheres e fortalecimento da categoria. Respondendo à solicitação da Federação, foi criado o “Mulheres Mil: Trabalho Doméstico e Cuidados”, através do qual o governo ofertará inicialmente 900 vagas em cursos de qualificação profissional voltados para trabalhadoras domésticas nos municípios de Aracaju, Salvador, São Luís, Nova Iguaçu, São Paulo e Recife, dentro do escopo do Programa Mulheres Mil e da Bolsa-Formação do Pronatec. Apesar da greve dos IFs, o curso Mulheres Mil não será afetado. As primeiras aulas do curso no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia aconteceram ainda no mês de abril, em referência ao 27 de abril, uma data histórica e de luta para a categoria, pois marca o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas.
O evento foi dividido em dois momentos. Na primeira mesa, será realizado o lançamento político do projeto, com a participação de ministras/os, da presidenta da Fenatrad, uma estudante do curso e a reitora de um dos Institutos Federais filiados ao projeto. No segundo momento, será realizada uma mesa temática sobre a intersecção entre raça, gênero, trabalho doméstico e cuidados, contando com a presença de especialistas, representantes da categoria e das secretarias vinculadas ao tema do cuidado em cada ministério. A programação incluirá também momentos de interação com o público virtual, permitindo que pessoas de diversas localidades possam participar e obter informações sobre o projeto. O evento é uma oportunidade para interessados em políticas públicas de educação e trabalho acompanharem o início de uma iniciativa focada na melhoria das condições de trabalho e vida das trabalhadoras domésticas no Brasil.
Curso Trabalho Doméstico e Cuidados
No contexto das trabalhadoras domésticas remuneradas, observou-se a importância de valorizar o trabalho e reconhecer os saberes desta categoria profissional. Aplicando-se a metodologia do Mulheres Mil, as educandas do projeto poderão participar de uma construção coletiva de projeto pedagógico a partir da identificação de saberes prévios acerca de um determinado conteúdo, do mapeamento de suas relações com a educação, com o mundo do trabalho e com espaços de organização política, além do mapeamento de suas condições de acesso a políticas públicas de transferência de renda, de saúde, de educação, de moradia, entre outras.
O instrumento pedagógico e dialógico deste mapeamento, o Mapa da Vida, além de subsidiar a elaboração do Plano Pedagógico de Curso (PPC), tem como objetivo produzir e organizar informações para identificar as redes de apoio disponíveis e as parcerias necessárias para o atendimento das necessidades das trabalhadoras.
GTI-Cuidados
O Grupo de Trabalho Interministerial responsável por elaborar a Política e o Plano Nacional de Cuidados está em sua fase final de trabalho, com a décima segunda e última reunião agendada para 29 de abril. Já foram definidos: sujeitos e públicos prioritários; princípios, diretrizes, marco conceitual, objetivos e estratégias.
A Política e o Plano Nacional de Cuidados estão em fase final de elaboração. O MDS e o MMulheres estão liderando as reuniões de pactuação, cujos resultados são os compromissos assumidos pelos ministérios e entidades com ações de cuidado a serem executadas até 2027.
A Política e Plano Nacional de Cuidados, além de ter sido elaborada de maneira interministerial, contou com ampla participação social, realizada através de ferramentas online e rodas de conversas presenciais. A participação digital totalizou 2337 respostas. Já as rodas presenciais aconteceram entre agosto de 2023 e fevereiro de 2024.
No total foram realizadas 29 escutas com 453 pessoas, 194 entidades, associações e movimentos, 34 povos indígenas, pessoas migrantes originárias de 7 países (Venezuela, Afeganistão, Irã, Angola, Guiné-Bissau, Congo e Senegal). Da participação social, a Secretaria Nacional de Cuidados sistematizou 772 propostas de ação. Todas foram consideradas e apresentadas aos Ministérios e entidades responsáveis para avaliação da viabilidade de execução.