Projeto escolar sobre legado de comunidade quilombola potiguar é destaque no DF

Preservar e divulgar a história da comunidade quilombola Macambira, localizada entre Bodó, Santana dos Matos e Lagoa Nova. Essa foi a ideia de um grupo de estudantes da rede estadual de ensino e que ganhou destaque na abertura da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília até o próximo dia 10. Diante a um auditório formado por cientistas, professores, estudantes e autoridades, a estudante Andreza Dionisio discursou sobre sua experiência ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A comunidade Macambira teve seu reconhecimento oficial pela Fundação Cultural Palmares em 2005. Entretanto, parte de sua trajetória ainda é pouco conhecida e documentada, o que motivou a criação de uma iniciativa que resgata e valoriza as histórias e tradições locais por meio de exposições virtuais.

O projeto, idealizado pelos estudantes Andreza Dionisio, Leonardo Clementino, Jaquiele dos Santos e Michele Clementino, defendeu narrar a história da comunidade a partir de objetos do cotidiano dos moradores, com foco inicial na exposição “O Mundo do Trabalho em Macambira”. Eles estão matriculados na escola estadual Sérvulo Pereira de Araújo, em Bodó (RN).

Com o uso de objetos antigos, como peneiras de mandioca e moinhos de água, o projeto revela o papel central da agricultura de subsistência e o protagonismo das mulheres nas tarefas domésticas e na produção agrícola, como nas casas de farinha onde a mandioca era transformada em goma e o lucro repartido entre os trabalhadores.

O projeto foi apresentado na Feira de Ciências do Semiárido Potiguar, organizada pela Universidade Rural do Semi-Árido (UFERSA), em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e do Lazer (SEEC). Desta oportunidade o projeto foi credenciado para a 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. A estudante Andreza realizou um discurso na abertura do evento, destacando a importância de pautas como a do projeto de sua escola serem debatidas de forma ampliada.

“Estou profundamente lisonjeada por essa oportunidade, que significa muito para mim e para o meu quilombo. Representar minha comunidade em um evento como este é uma grande honra”, destaca a estudante. A oportunidade abre um novo mundo para a jovem. “Essa é minha primeira vez que deixo minha comunidade, que viajo de avião, que apresento um projeto em feira nacional. Além disso, participar com meu projeto, que reflete os problemas e as necessidades da minha comunidade, é algo que traz um sentido muito especial a esta jornada”, pontua Andreza.

Após a fala da estudante, o presidente Lula defendeu o papel da educação e da ciência para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. “A oportunidade torna as pessoas iguais e prova que ninguém é mais inteligente do que ninguém. Ela prova que, se todos tiverem a mesma oportunidade, tiverem acesso aos mesmos livros e aos mesmos professores, elas vão se desenvolver por si só, independentemente da origem social. O que elas precisam é ter aquele braço que o Estado tem que ter para ajudar aqueles menos favorecidos”, argumentou.

Andreza ainda destaca que o projeto nasceu do desejo de valorizar a ciência e o conhecimento para enfrentar desafios reais, inspirados pela história e pela luta dos nossos antepassados. “Eles são a prova viva de que nosso passado quilombola não está apenas no passado, mas também no presente e se projeta para o futuro”, finaliza.

Através dessa iniciativa, os moradores do quilombo Macambira puderam descobrir e valorizar aspectos de sua própria história, compreendendo a relevância da preservação cultural e da valorização dos objetos que guardam memórias fundamentais para o fortalecimento de sua identidade quilombola.

“Acreditamos que, por meio dessas iniciativas, surgem novas possibilidades de conhecimento, ensino-aprendizagem e formação social, que enriquecem não só o ambiente escolar, mas também o desenvolvimento pessoal e profissional de todos os envolvidos”, avalia Carlos Silva, professor de Andreza.

O projeto “Revivendo a História” não se limita à exposição inicial e planeja expandir para outros temas, incluindo manifestações culturais e culinária, com o objetivo de construir uma memória coletiva que integre a tradição à era digital.

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