A pesquisa Olhar Discente sobre as práticas docentes surdas e o uso de ferramentas educacionais digitais busca captar as percepções dos discentes surdos sobre a sua experiência acadêmica. A investigação teve três objetivos. O primeiro foi identificar a percepção de estudantes surdos em formação sobre o uso das ferramentas educacionais digitais no processo de ensino e aprendizagem. O segundo foi identificar o perfil e apropriação tecnológica dos estudantes surdos do curso de Licenciatura em Letras-Libras/Língua Portuguesa da UFRN. O terceiro foi diagnosticar as necessidades formativas quanto ao uso de ferramentas educacionais digitais.
Segundo Flávia Roldan, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGEEsp/UFRN) e orientadora do trabalho, a análise busca melhorar as experiências acadêmicas dos alunos surdos quanto ao uso de ferramentas digitais. “Compreender como o indivíduo surdo aprende, se organiza cognitivamente, e se autorregula em seu processo cognitivo é fundamental para pensarmos em estratégias eficazes de ensino”, afirma.
Durante o mestrado, Lidiane Silva buscou ideias para tornar a educação surda mais acessível, considerando as questões linguísticas, culturais, sociais e o cenário no qual essas pessoas estão inseridas. A orientadora Flávia Roldan explica que “as pessoas surdas leem o mundo de maneira visual, por isso muitos autores falam que são sujeitos visuais. A língua de conforto das pessoas surdas é uma língua visual que é a língua de sinais. Sendo assim, as tecnologias favorecem essas especificidades”.
Para chegar à conclusão de que as ferramentas digitais são necessárias no processo de ensino e aprendizagem de pessoas surdas, Lidiane utilizou bases teóricas de pesquisadores da área de educação surda. Além disso, entrevistou cinco alunas regularmente matriculadas na disciplina de estágio, as quais são obrigatórias na grade curricular da Licenciatura em Letras-Libras/Língua Portuguesa da UFRN.
De acordo com Lidiane, “as estudantes surdas compreendem as potencialidades das tecnologias digitais no espaço educativo e apontam para a possibilidade de elas contribuírem para o desenvolvimento de sua futura ação docente”. Mesmo entendendo essa importância, as entrevistadas afirmaram que não usam ou quase nunca usam algum recurso digital durante as aulas de estágio. Segundo a pesquisadora, isso “pode estar relacionado com a dificuldade que a comunidade surda, em sua maioria, possui em manusear uma ferramenta digital pelo fato da maioria desses recursos se apresentarem em língua portuguesa”, sem opção de linguagem de sinais.
Com base na análise, o estudo propôs a reconfiguração das práticas educacionais. A autora sugere que os docentes usem recursos digitais, entre eles, jogos e materiais audiovisuais com imagens, mediando o processo de aprendizagem. A pesquisadora defende que a utilização de materiais digitais irá contribuir para o desenvolvimento de competências didáticas na educação de surdos.