Mortes por Covid-19 caem 25% desde a segunda quinzena de abril, mas ainda estão acima do pico da primeira onda

O número de mortes por Covid-19 no Brasil teve queda de 15% na última quinzena, num sinal incipiente de arrefecimento da segunda onda. Em relação ao pico da média móvel de 3.125 mortes em 12 de abril, foi uma queda de 25%.

A atual taxa de mortalidade diária no país, porém, tem média de 2.361, o dobro do auge visto no ano passado. Para especialistas, é preciso manter os esforços de resposta à pandemia.

A queda recente nos óbitos foi puxada por 15 estados que tiveram redução. Apenas Pernambuco aparece em tendência de alta. Mas especialistas recomendam conter qualquer entusiasmo com as estatísticas.

— Os valores de casos e óbitos ainda são muito altos, o que implica que as medidas de contenção não devem ser aliviadas nas próximas semanas — diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da USP.

 

Na opinião dos pesquisadores, é preciso que haja cautela para que a pressão por reabertura da economia não sabote as medidas de distanciamento. Essa pressão cresce à medida que a queda de faturamento das empresas se agrava no país, junto com o desemprego, e precisa ser equilibrada com a necessidade de medidas de distanciamento.

Para a epidemiologista Gulnar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, ainda não está claro se a curva de queda vista agora é consistente em todos os lugares.

— Para justificar recuo nas medidas de restrição, a queda teria que ser drástica, vigorosa, e por mais duas ou três semanas. Não há segurança ainda de que a tendência de aumento não possa voltar — diz a especialista.

A resposta à pandemia precisa levar em conta a situação de cada estado, dizem os cientistas, pois ainda há uma variedade de cenários. O Rio, por exemplo, está com dificuldade de consolidar a tendência de queda.

Para Gulnar Azevedo, o estado encara situação pior que o resto do Sudeste por ter enfrentado meses de tumulto na administração pública ao longo do último ano, o que prejudicou o planejamento da reação à epidemia.

Segundo Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, outro fator que explica a demora do Rio em reduzir a mortalidade é o momento da epidemia nos municípios.

— O Rio começou a vivenciar a segunda onda depois dos outros estados. O que vemos é o mesmo movimento, só que mais atrasado — explica.

Para Chebabo, os estados que estão em situação aparentemente mais confortável também precisam ficar atentos.

— Minha maior preocupação é o inverno, que é muito mais rigoroso na região Sul — diz o infectologista.

Segundo Chebabo, como a pandemia já está no Brasil há mais de um ano, ela já dá sinais de que pode se encaixar numa dinâmica sazonal.

Combate regionalizado

Na opinião de Gulnar Azevedo, a variedade de cenários que existe no país ainda é muito dependente da qualidade de políticas públicas de cada estado ou município, uma vez que o governo federal atuou pouco para coordenar medidas de contenção do vírus em estados e municípios.

Todos os especialistas consultados pelo GLOBO, porém, afirmam que um empenho crucial para a resposta brasileira à pandemia agora deve acelerar a vacinação da Covid-19.

O Brasil vacinou até agora, com duas doses, 16.723.761 pessoas, ou seja, 7,9% da população, e ainda não há sinal de arrefecimento da Covid-19 na população geral. Há um recuo incipiente da doença entre o grupo dos idosos acima de 70 anos, muitos dos quais tomaram a segunda dose do imunizante há mais de um mês.

O GLOBO

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