Cemitérios históricos de São Fernando: preservação e tradições

O município de São Fernando, na região Seridó do Rio Grande do Norte, tem dois cemitérios que fazem história no estado pelas suas peculiaridades incomuns: o cemitério que é acoplado à Igreja de Nossa Senhora das Dores, no centro da cidade, e o Cemitério das Areias, que foi criado devido à epidemia de cólera, diante de tantas mortes na localidade, e hoje é lugar de peregrinação.

A Igreja de Nossa Senhora das Dores tem como data de construção 1884, e fica no centro da cidade. Ao entrar na Igreja, as portas largas, da lateral esquerda, abrem para o cemitério acoplado, com alguns túmulos antigos. A entrada pela Igreja é a única entrada de acesso ao cemitério e, conforme a pesquisadora e professora Maria da Guia de Medeiros, este foi o primeiro cemitério de São Fernando.

Em São Fernando, Maria da Guia de Medeiros tem a preocupação de pesquisar e preservar a história do município. Através dela, quando foi vereadora no município, houve aprovação da Lei nº 0767, sancionada em 2018, que dispõe sobre a proteção da Igreja de Nossa Senhora das Dores, e faz do cemitério acoplado, o Museu Cemiterial Neco Avelino, patrimônio histórico, cultural e religioso do município de São Fernando RN, sendo vedada qualquer alteração estrutural na construção original, garantindo sua preservação.

De acordo com Da Guia Medeiros, o Sr. Neco Avelino foi um fazendeiro do município, que prestava muitos serviços à Igreja e construiu seu próprio túmulo, no cemitério acoplado.

Neco Avelino prestava serviço à Igreja por amor, era muito dedicado, e construiu seu próprio túmulo. Com o passar dos anos foi residir em Recife, Pernambuco, e há poucos anos a família trouxe os restos mortais dele para este cemitério. Ele dizia que queria ser sepultado neste túmulo. Houve celebração com toda família reunida”, relata a professora.

A emancipação política de São Fernando aconteceu em 1958 e percebe-se, pelos registros nos túmulos, que nesta década de 50, os sepultamentos ainda aconteciam neste cemitério. Também em 1984, há registro de sepultamento, provavelmente por ser túmulo de antigos familiares do falecido. De acordo com pesquisas, Da Guia Medeiros tem informações que este é o único cemitério acoplado do Rio Grande do Norte sendo, portanto, visitado por estudantes como fonte de pesquisas históricas.

O outro cemitério de história marcante é intitulado de Cemitério das Areias e foi construído em 1877, no Sítio Jerônimo, para sepultar. distante da cidade. as pessoas que morriam de cólera, epidemia que provocou a morte de muitas pessoas. Devido à grande quantidade de mortos, não havia tempo hábil para providenciar local individual para sepultar, e faziam “valas”, sem identificação.

Foto Tykkao: Cemitério das Areias 

O cemitério foi construído com cerca de pedra, numa distância de 19,9km da cidade de São Fernando. Com o passar dos anos, o Cemitério das Areias tornou-se lugar de peregrinação, sendo hoje uma estrutura de alvenaria, com capela que abriga os símbolos de graças alcançadas, que geralmente são imagens sacras, velas, terços, fotografias e outros objetos. As pessoas pedem graças às almas dos anônimos ali sepultados.

Conforme a professora Da Guia Medeiros, na administração do prefeito Paulo Medeiros ( in memoriam), foi colocado cruzes no Cemitério das Areias, simbolizando os anônimos sepultados. No Dia de Finados, há celebração de missa no local e presença de muitos fiéis, inclusive, para agradecer graças alcançadas.

Foto Anna Jailma: Maria da Guia Medeiros é professora e pesquisadora da história de São Fernando

Eu sou uma das pessoas que já alcancei graça e levei uma Nossa Senhora da Guia, que foi deixada na capela.  Em cada 02 de novembro, é grande a peregrinação para o Cemitério das Areias, com muitos devotos. Lá tem celebração da missa e um café de confraternização entre todos”, relata a professora.

Na Lei Orgânica do Município, promulgada em 03 de abril de 1990, Art. 130 foi estabelecido que o Cemitério das Areias, é Patrimônio Histórico do Município, de forma que o poder público municipal é responsável pela sua preservação.

Essa reportagem faz parte do projeto “Saiba Mais de perto”, idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.

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