Advogada levou o sertão poético de Caicó para Paris

Foi no Sítio Manhoso, zona rural de Caicó, que nasce a história de Ezilda Melo, advogada, com atuação na área da família, área criminal, e direito cultural, propriedades intelectuais e direitos autorais. Há três anos, Ezilda é diretora da Editora Porta, tendo publicado, como Publisher, mais de 130 livros. De autoria dela, são 41 obras publicadas, como “Pandemia e Mulheres”, “Mulheres e Justiça”, “Maternidade no Direito – padecer no machismo” e “Direito, Arte e Negritude”.

Ezilda reside atualmente em João Pessoa e através do Edital Arte na Bagagem, que apoia a circulação artística, teve sua obra “Águas de Mim” selecionada e premiada para representar a arte produzida por escritoras da Paraíba. O lançamento aconteceu na programação da Semana Europeia das Competências Profissionais 2023, em Paris. Também no evento, a autora recebeu menção honrosa pela produção artística. Em 2022, houve lançamento deste livro em Porto, Portugal.

“Águas de Mim” foi escrito num período de 17 anos, evidenciando de forma poética, os caminhos da autora, desde a zona rural, perpassando por Caicó, Campina Grande PB, Salvador, Bahia e sua vivência atual em João Pessoa, Paraíba.

É a obra de uma sertaneja que fala sobre sedes e caminhos percorridos, as andanças na Borborema, no litoral da Bahia e da Paraíba. Reúne poesias da jovem e também da mulher, da menina e da mãe, da jovem sonhadora, da professora e advogada atuante.  É um passeio, nas águas que correm, na existência de quem sai em busca de si e que traz na bagagem existencial, a força das mulheres do Seridó potiguar“, avalia Ezilda Melo, advogada, historiadora e escritora.

A menina Ezilda estudava na Escola Isolada Cosme Pereira, na zona rural, onde a professora Noêmia ensinava todas as séries, dividindo os turnos em blocos de duas horas para cada série. “A escola era precária, sem biblioteca, sem livros. Cresci numa casa sem nenhum livro e quando aprendi a ler, pedia livros emprestados“, recorda Ezilda.

Seus pais estudaram até a quarta série, e as gerações anteriores eram analfabetas. Aos 9 anos, ela passou a estudar em Caicó, na Escola Estadual Santo Estevão Diácono, indo e vindo todos os dias em caminhonetes pau-de-arara, que transportavam estudantes nestes 24km, às vezes no sol escaldante, às vezes nas “chuvas do inverno”, com o transporte desafiando o lamaçal da estrada de barro.

O Ensino Médio, ela iniciou na Escola Estadual Calpúrnia Caldas de Amorim (EECCAM), mas foi selecionada no BNB para estágio e assim pagava sua mensalidade no Colégio Diocesano Seridoense (CDS). Em Campina Grande cursou História e Direito, tendo lecionado na UFCG, como professora de História, e na UEPB, lecionando Direito. Em Salvador, Bahia, foi professora e coordenadora do curso de Direito em universidades. Na Paraíba, já foi assessora jurídica na corregedoria do Ministério Público e é vice-presidente da Comissão de Direito, Arte e Cultura da OAB.

Ezilda inicia agora, no Brasil, o lançamento de seu mais novo livro “Em terra seca, nasce flor”, relacionado às mulheres sertanejas, fortes e resilientes, que sofrem experiências de violências. O livro será lançado em João Pessoa PB e em outras capitais do Brasil, depois sendo também lançado em Porto, Portugal e Paris, na França.

São poesias feitas a partir de tristes histórias reais, fontes de inspiração, para tratar com emoção sobre o tema, e servir como educação sentimental de jovens e adultos, para que o respeito entre os sexos seja prioridade social, e que ocorra mudança nas formas de se relacionar, priorizando o amor“.

Também nesta obra, “Em terra seca, nasce flor”, a poesia sai da violência e floresce na fertilidade do coração. “Nessa parte o que fica em evidência é a vontade de propor um lugar dentro da narrativa dos grupos minoritários, com ênfase no aspecto geográfico e na ciranda de direitos humanos, com foco na colonização da região, seja por judeus sefarditas, indígenas e negros”, conclui Ezilda.

Por Anna Jailma

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