O curso “Comunicação e Negociação para Prefeitas”, desenvolvido pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos e pela Escola Nacional da Administração Pública (Enap), em parceria com o Instituto Alziras, foi lançado nesta terça-feira (26/03). A aula magna do curso abordou o tema da violência política de gênero.
Na oportunidade, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, falou que essa é mais uma iniciativa para fortalecer as mulheres e mostrar que sua presença em espaços de poder, de liderança e na política é essencial para o fortalecimento da democracia e, ainda, para a redução da desigualdade de gênero e o combate a violências sofridas pelas mulheres em espaços majoritariamente ocupado por homens.
“Essa iniciativa é em prol da igualdade de gênero e a representação de mulheres, inclusive de mulheres negras, em espaços de liderança. O curso se faz necessário nesse momento para que tenhamos uma sociedade cada vez mais democrática. A violência contra as mulheres na política é feita para que elas sejam tiradas de cena, uma forma de mostrar que esse espaço não é nosso, mas iremos combater essa estrutura de poder e conquistar o que é nosso por direito”, defendeu Dweck.
Betânia Lemos, presidenta da Enap, disse que é muito significativo lançar o curso em março, o mês de luta das mulheres e do combate à discriminação racial. Ela explicou que a iniciativa faz parte do programa da Enap que engloba a formação de mulheres a fim de inseri-las, em especial, as mulheres negras, na Administração Pública, com preparação para enfrentarem os desafios.
A presidenta falou que o tema dessa primeira aula, “violência política contra as mulheres”, é simbólico por se dar na semana em que foram presos os supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco.
“Vocês tiveram a coragem de se lançar como prefeitas e conosco terão mais reforço e repertório para enfrentar as violências que infelizmente existem na trajetória. Queremos nos conectar além das técnicas e que, a partir deste curso, surja um grupo de mulheres para se apoiar na luta política. Lutar sozinha é difícil, mas unidas conseguimos ir mais longe. Esperamos que a Enap seja o lugar de discussão e apoio para que se sintam à vontade para aprender.
Desafios
Marina Barros, diretora executiva do Instituto Alziras , explicou que as prefeitas só estão em 12% das prefeituras brasileiras e as negras ocupam apenas 4% e, nesse cenário, levaria 144 anos para o Brasil alcançar a paridade de gênero. Segundo a diretora, os obstáculos para que as mulheres consigam ser perfeitas são muitos, a exemplo da falta de recursos para financiamento de campanhas, das falas desmerecidas e do assédio em espaço público.
“Temos que dar conta de tudo e mais um pouco. Acreditamos nessa potencialidade das mulheres e em uma nova forma de fazer política, com compromisso diário de melhorar a vida das pessoas. Vemos mulheres de diferentes regiões e partidos nesse curso, é bom ver essa diversidade, que possamos construir juntas boas práticas no ambiente político”, ressaltou.
Segundo a professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Marlise Matos, que ministrou a aula magna, a iniciativa é de extrema importância, principalmente em um país como o Brasil que, de acordo com a 2ª edição da “Pesquisa Mulheres na Política” de 2022 do Instituto DataSenado, 32% das entrevistadas afirmaram já terem sido discriminadas no ambiente político em razão de seu gênero.
De acordo com a professora, o continente americano tem o melhor percentual de participação política das mulheres em comparação com outros continentes, com 34,9%. O Brasil perde apenas para Belize, com 17,5% em representação política de mulheres, se igualando a países como Emirados Árabes Unidos e Cazaquistão, onde os direitos das mulheres são cerceados.
A professora ainda informou que o mais novo relatório da União Interparlamentar (2022/2023) destacou que o progresso da participação feminina em 2023 é o menor em seis anos e que a violência contra mulheres atrasa esse avanço. Entre os dados positivos, o documento mostrou que o Brasil registrou número recorde de candidatas negras na última eleição.
“O objetivo do curso é promover um caminho menos doloroso para as mulheres prefeitas no Brasil. Apesar de não ser um tema agradável, se faz necessário. O atual cenário não se trata de sub-representação das mulheres, isso é exclusão política, pois não caminha ladeada às demais conquistas. Temos que atuar juntas para construirmos redes a fim de nos fortalecermos e avançarmos na conquista de nossas pautas”, destacou.