Agora é a hora da Amazônia falar para o mundo e não mais o mundo falar pela Amazônia, diz ministra

No encontro realizado em Belém (PA) nesta terça-feira (26/03), com a presença do presidente francês, Emmanuel Macron, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, falou sobre a necessidade de reconhecimento e voz ativa para a Amazônia. Ela argumentou que a realização da COP-30 na região não é apenas simbólica, mas um mecanismo estratégico para reforçar a autonomia na narrativa amazônica, ampliando a compreensão global dos seus desafios e sucessos.

Durante o evento, a ministra ressaltou a cerimônia em que o cacique Raoni Metuktire foi agraciado com a Ordem Nacional da Legião de Honra. Esta condecoração, a mais prestigiada da França, é reservada aos que se destacam globalmente, seja cidadãos franceses ou estrangeiros. Segundo Guajajara, o reconhecimento a Raoni simboliza a valorização da luta secular dos povos indígenas.

A ministra sublinhou a necessidade de uma colaboração internacional mais efetiva, enfatizando que “os países que tenham mais condições devem ajudar o Brasil a proteger estas florestas”, uma chamada à ação para a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade ambiental global. Ajudar o Brasil a conservar a Amazônia não é apenas uma questão de responsabilidade ambiental, mas também uma estratégia essencial para alcançar a sustentabilidade em escala global.

“Agora é a hora da Amazônia falar para o mundo e não mais o mundo falar pela Amazônia”, disse Guajajara. A ministra pediu por ações concretas que vão além de simples acordos e reforçou a necessidade de preservação dos povos indígenas como uma condição para se atingir os objetivos de frear as mudanças climáticas.

Segundo Guajajara, este é um momento de reconhecer a luta histórica milenar dos povos indígenas, ação que transcende as fronteiras locais e se encaixa como uma agenda global.  “Defender as florestas é defender a vida dos povos indígenas. […] a gente não tá aqui negociando floresta, negociando Amazônia, entregando Amazônia, de forma alguma. Amazônia é esse lugar que precisa ser olhado, ser visto, ser protegido pelo mundo inteiro”, afirmou.

Para a ministra, as práticas e sabedorias dos povos indígenas na gestão sustentável de recursos e na conservação da biodiversidade são essenciais. Esta percepção coloca a sua luta e modo de vida como fundamentais, não apenas na defesa das suas terras, mas como parte crucial da luta maior. “Todo trabalho que os povos indígenas fazem não é uma agenda localizada, é uma agenda global. Uma agenda climática. Uma agenda do bem viver no planeta”, disse.

Homenagem a Raoni

Em seu discurso após receber a homenagem francesa, o cacique Raoni Metuktire, emblemático líder dos Kayapós, expressou sua visão e preocupações, apelando ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e ao presidente Macron para persistirem e ampliarem esforços na proteção ambiental e na garantia dos direitos dos povos indígenas. “Temos que continuar com esse trabalho… para que todas as pessoas estejam bem,” sublinhou Raoni.

Raoni fez um apelo específico contra a aprovação do projeto Ferrogrão, uma grande obra ferroviária prevista para ligar Sinop (MT), ao porto de Miritituba, no município de Itaituba (PA) devido a preocupações com o desmatamento e a exploração ilegal de recursos naturais. O projeto exclui 862 hectares do Parque Nacional do Jamanxim, atinge terras indígenas e outras áreas de conservação ambiental.

O líder indígena voltou também a reiterar sua posição contra o garimpo e o desmatamento, enfatizando os efeitos já percebidos das mudanças climáticas. “Nunca concordei com o desmatamento, com a exploração de madeira, ouro. Fico preocupado que o homem branco continue fazendo isso. Eu fico preocupado com isso, ja estamos sentidos”, disse o cacique

Outro ponto crucial mencionado foi a demarcação de terras para comunidades indígenas que ainda carecem dessa segurança territorial. Raoni pediu apoio à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e sua presidente, Joenia Wapichana, para efetivar essas demarcações.

“Você precisa demarcar terras indígenas para as comunidades indígenas que não tem terra demarcada ainda. Quero pedir para que você apoie a Funai e que tenha dinheiro para demarcar terras indígenas.

Acordo de € 1 bilhão

O presidente francês, Emmanuel Macron, desembarcou nessa terça-feira no Brasil para uma estadia de três dias, vindo da Guiana Francesa. Em Belém, ele se reuniu com o presidente Lula em um trajeto fluvial até a ilha do Combu, uma das maiores da região.

O foco da agenda foi na proteção ambiental e nas mudanças climáticas, no fomento à economia local, na estimulação das relações comerciais e na integração das regiões de fronteira, bem como no suporte às comunidades indígenas. Lula e Macron anunciaram um acordo, o acordo prevê o investimento de € 1 bilhão nos próximos anos na chamada bioeconomia, envolvendo ações na Amazônia brasileira e na Guiana Francesa.

“O que temos que fazer é preservar, conhecer melhor, multiplicar a cooperação cientifica, construir estratégias de apoio a povos indígenas e juntos termos ações de investimento na bioeconomia”, afirmou Macron. Lula, por sua vez, reforçou o objetivo de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030. “Vamos acabar para provar ao mundo que nós vamos preservar a região. E queremos convencer o mundo, que já desmatou, tem que contribuir de forma muito importante para que os países que ainda tenham floresta mate-las em pé”, disse.

O evento na ilha do Combu contou com a presença de figuras importantes na defesa dos povos indígenas e da Amazônia. Além da ministra Guajajara, e Joenia Wapichana,, a lista de participantes incluiu também Puyr Tembé, Secretária dos Povos Indígenas no Estado do Pará, e Lidia Guajajara, representante da juventude indígena. Os caciques Megaron, Betikre, e Patxon Metuktire também estiveram presentes, ao lado de Watatakalu Yawalapiti, Oé Kayapo, Karanhin Kayapo e Akiabôrô Kayapó.

Além disso, o evento teve a participação do Cacique Davi Kopenawa, representante dos Yanomami, e Nara Baré, uma voz influente da Amazônia. Elcio Severino da Silva Machineri (Toya) representou a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), enquanto Val Eloy Terena veio do Bioma Pantanal. Concita Sompré, da Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), e Irê-ô Kayapó, também fizeram parte desse encontro significativo, unindo forças em prol da preservação indígena e ambiental.

Por: Ministério dos Povos Indígenas (MPI)

 

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